samedi 20 août 2011

Acadêmicos

X
questão 45
verdadeiro
X
F
V
falso
blocado
V
um cérebro de diploma
V
questão 72
F
último período
V
um homem-diploma







visão

nossos olhos, silicone puro
capturam o fel estético
qualquer sorriso patético
de um rosto contra o muro


meu olhos, teus olhos, uma cegueira
cada visão desabrocha uma dor
cada solidão uma preta cor
até no fundo da córnea derradeira


cores artificiais comem retinas
arco da íris de fuligem crua
cílios espanando poeira de rua
zelando as cápsulas de serotonina 



Kritisa

hoje, sou teu, Kritisa
dá cá teu braço
afugenta meu cansaço 
teu beijo de brisa


dá cá teu colo, Kritisa
apaga varizes de dor
seus raios de torpor
terremoto que suaviza


com minhas mãos vagueio
teu corpo na explosão
toda farta alucinação
dos ávidos teus seios


Kritisa, hoje teu sou
viajante, te espero
esperante, te quero
e hoje, contigo vou






Walter

Walter, você
1) entornou o vinho
2) cortou as cordas da guitarra
3) arrumou palavras às poesias inauditas
4) usou guarda-chuva quando o céu distribuía as nuvens
5) foi a conurbação enquanto flores murchavam
6) matou seu sono no terceiro capitulo do sonho
7) assassinou os personagens no meio dos seus contos
8) apagou as velas das orações
9) Estraçalhou a garganta dos poetas
10) Ordenou saques aos bosques azuis
11) Escreveu seus dez ou doze mandamento
Depois, quando sua missão cumpriu-se
12) Você, Walter, morreu, sem despedidas
E ainda era segunda-feira


touceiras de gente e farda
esperam
...
metrôs 
...
esperam
...
trens
...
esperam
...
ônibus
...
esperam
...
a morte
uma barcarola

mercredi 17 août 2011

mulheres semi-nuas
cruas
roupas cruentas
parca poesia
corpo
sem melodia
ordinária rima
aberta
abertamente 
flor arregalada
baldia
pétala fria
semi-rosa
semi-mulher

Olhos de dentro

os meus olhos de dentro
não querem beber
nem mergulhar
na poeira de fuligem
os meus olhos de dentro
não escutam buzinaços
não leem placas
os meus olhos de dentro
sujos de meus carbonos
das minhas tintas
enlameados nas minhas grotas

dimanche 14 août 2011

Sêmen de Silício

a noite dói nos olhos
e vende-se muitos óculos
a saliva já arde
na hora do beijo
queima a língua


apenas abraços eletrônicos
masturbações digitais
sussurros entre eu e jaqueline maria
anunciados pelas placas telefônicas
e quando gozamos:
sêmen de silício 

jeudi 11 août 2011

Em Gaíbu

A acidez azeda do iodo
dissolve a infraestrutura
da minha vontade
entupido de verde-mar
o tempo continua, sei
brutas rochas
pesadas como âncoras
rasgando espinha de ondas
construindo as sintaxes
de cada dia
e o navio passa
trazendo coisas e levando gente
levando gente e trazendo coisas
misturadas
aqui
fico
como o navio não fica
como os homens não ficam
aqui fico
como meu corpo não fica
minha rebeldia é olhar o mar

04/08/2011

Chegamos
aqui o mundo caga seu metabolismo
a estação é como uma rosa se escancarando:
pétalas de ferro, gente, roupas, mucosas de sal 
as intestinações do orgânico sistema de aço  
se desata entre os ângulos da multidão
veias no cimento da urbe
como a imagem nauseabunda do Capibaribe
galopando ao redor de um ônibus
como um tiro de pistola 
e camadas de sol entortam pescoços
e pesam sobre os encéfalos 
bisturi nos olhos
reclames de sabão, detergente, água sanitária
molestam minhas sujeiras íntimas






samedi 6 août 2011

ROTINA

rotina
diário de páginas repetidas
rotina
rota já conhecida pelos pés
rotina
vida esquecida na avenida
rotina
vida de único viés
rotina
tem a cor da conurbação
rotina
tinge tudo de nada
rotina
tinge até a visão
rotina
de textura pré-fabricada
rotina
quando sou sem ser
rotina
eu que passa sem ver
rotina
coração calado pelo buzinaço
rotina
fundição do homem ao aço
rotina

LOMBRADO

artificiais caminhos
na casca da cabeça
uma imensa vontade
de enfiar um pau
na vagina do sol

(pensamentos da des-razão
a-razão
ou quem sabe
no solo da raiz da razão)

medo?
tive muitos
hoje, meu medo é uma criança

hoje, minhas reflexões estão mudas
embaraçadas no derramamento de luz
de fumaça
de vinho
no pote do cérebro 

ESTRANHAMENTO

quero me desnudar de meu humano
despojar-se dos atributos
herdados da bruta forma da vida ordinária
olhar novamente a lua
e ver que ela mudou desde a última menstruação
olhar os próprios culhões
e perguntar sobre o esperma que um dia fui
perguntar sobre o útero que estuprei

A MADRUGADA DE 26 DE JULHO

1:00
nem mesmo um aborto de poesia
1:30
rasgo papéis pesados de borrões
1:31
hoje não é madrugada em que amadureça versos
2:00
inútil ler livro, inútil pensar na mulher que se apagou após o desquite, inútil masturbação inútil
3:00
o escuro cansa os olhos, se coagulo na cabeça, acendo a lâmpada
3:01
fico tonto com a luz que fere
3:03
piso numa barata, nos estouramos como se fossemos de plástico, tomo um leite também de plástico, branco como uma barata que vomita
3:15
Arrulhar, gato sobre pombos, pombos sobre telhado, gato sobre gato, ladrar de cães que agouram os gatos, motocicletas e luzes que buzinam, um homem, eu, debaixo da onomatopéia da insônia
3:30
Poesia possível: imagem parda de barata, pombo, gato, cães, homens, carros, grilos de concreto, a fauna insone que anunciam ou mesmo invade o quarto do sonho.  

APRESENTAÇÃO

risco seu plástico
sou de aço
sou de atos
todo drástico
coração de ácido
olhos de crânio
mijo sal
e enferrujo o titânio
da cruz do natal