lundi 12 septembre 2011

ou

ou um botão de liga/desliga
ou uma chave de fenda

ou uma vírgula na gramática dos aços
ou uma nuvem de lítio
ou uma chuva caindo do céu de lítio
ou um parafuso prata
ou uma corrente de motocicleta
ou um cartão batendo
ou uma chapa soldada no Porto de Suape
ou eu

samedi 3 septembre 2011

Latitudes

meus tênis ainda guardam as digitais
de uma criança chinesa
as transversais marcas do solado
deixam suas tatuagens de baixo-relevo
na garganta seca dessas ruas tropicais
olhado de cima, pela íris de um satélite
o ponto preto na estria do mapa
nem imprimem minha foto
nos algarismos do senso demográfico
e a mão do menino chinês
ainda aperta meus cadarços
a sujeira de suas unhas
(as sujidades das latrinas de Xiamen)
entre os nomes em inglês
e essa mão vai arrastada pelo Cais de Santa Rita
eu e meu menino chinês, mãos dadas
pelo mundo globalizado

jeudi 1 septembre 2011

De Cajueiro Seco a Joana Bezerra


bichos sentam
educados macacos
realçam até sobrancelhas
escutam musica new age
reparam
reparam
avião pousando no Aeroporto dos Guararapes
moscas
alguns rezam
crucifixo de plástico ao pescoço
gripados, talvez
um comprimido de deus
ou de ácido ascórbico
macacos doentes enlouquecem
mas o metrô continua em 80/h
as poças de mangue
certos bichos não olham
gostam de óculos lilás
reparam
reparam
quadriláteros amputam o recife
na cadeira quarenta e sete:
fêmea de óculos e farda
de aliança ao pescoço, séria
macaco de maquiagem
ela vai e o metrô chega
também vou:
ornitorrinco trabalhador

 

um mulher que cura


para desintoxicar esta noite
a luz da imagem dela
sol lilás
o rosto
ofusca-se postes
os olhos dela
quebrando escuros
ela passa
um cometa
distorcendo horas
estrela
transforma minha órbita
entravando a ligeireza
e a doença
do doente mundo ligeiro 
pedaços de lágrimas velhas
como pus das lembranças
minha cabeça,
nos chumbos minutos
das quinze horas,
é só hematoma
lateja
essas dores-pensamento:
o sorriso dela (ela é muito bonita)
três segundos antes de me beijar


Para esquecer
para matar o câncer da lembrança
tomo um gole de poesia antibiótica